domingo, 5 de novembro de 2017

CONHECER-SE FAVORECE A VIDA A DOIS

Por Néa Tauil


Sabemos que a convivência com pessoas nem sempre é muito fácil, pois todas as modalidades de relação (família, amizade, casamento, trabalho, estudo, etc.) não envolvem apenas alegrias, prazeres, realizações, conforto. Ou seja, não existe apenas o lado prazeroso das relações, há também o lado dos conflitos, do desprazer em que as pessoas geram em nós  sentimentos desconfortáveis, como frustração, mágoa e raiva. Sendo que não só as  outras pessoas nos provocam sensações boas ou más, também provocamo - nas  as mesmas sensações, pois vivenciar momentos de prazer e desprazer são inerentes às relações humanas. Porém, a questão é: como lidar com essa condição na vida a dois, sem destruir o relacionamento? 

A vida a dois é uma construção do dia a dia e, para agir de uma forma mais tranquila - na relação  "eu-outro"- o autoconhecimento é essencial para que a pessoa possa se observar dentro da relação. Isto é, na arte de se relacionar com o outro, é primordial conhecimento de nosso próprio eu. Quando a pessoa conhece seus pontos fortes e fracos, fica mais fácil desenvolver atitudes que promovam relacionamentos mais saudáveis e construtivos. Estar ciente sobre os próprios limites, fica mais fácil desenvolver atitudes que resolvam essas limitações, apropriar dos próprios sentimentos, reconhecendo-os e questionando quais necessidades emocionais não estão sendo atendidas, evita o desgaste das relações por questões de pouca relevância. Podemos dizer isto: quando a pessoa não se conhece em profundidade, ela caminha no escuro, coloca-se em condições de inferioridade diante do outro, pois fica difícil perceber quem realmente é, o que consegue ou não fazer, identificar quais são as suas necessidades, desejos e suas verdadeiras habilidades e aquilo que pode lhe ajudar a melhorar tais habilidades.  Com certeza, quando temos consciência do nosso papel e do papel do outro na relação, com limites bem definidos, a vida a dois tende a ser mais igualitária e com respeito ao espaço de ambos.

Na real, o processo de autoconhecimento muda a forma como uma pessoa interage consigo mesmo, com o mundo e com as outras pessoas, abrindo a possibilidade para conhecer e aprender novas coisas. Conhecer-se melhor, sabemos, desde Sócrates (470-399 a.C.), é fundamental para o viver, já que os outros entram em nossa sintonia e repetem o que emanamos. Sócrates foi um grande defensor do autoconhecimento, e durante a sua vida, dedicou muito tempo para tentar entender a sua própria natureza. Afirmou que nenhum indivíduo era capaz de praticar o mal conscientemente e propositadamente, mas que o mal era um resultado da ignorância e falta de autoconhecimento.

De fato, quanto menos autoconhecimento, mais o inconsciente vai estar no comando. O inconsciente não se manifesta na vida de cada pessoa apenas em lapsos, atos falhos ou em sonhos. Na verdade, ele é uma força que está por trás de todas as nossas escolhas e repetições de comportamento. Entretanto, a maneira como o inconsciente interfere em cada pessoa é relativo, já que leva em consideração a história de vivência de cada um, conforme as representações sociais introjetadas pela família em que está inserida. Então, não é por outra razão que o mesmo inconsciente que nos impulsiona a repetir atitudes saudáveis, leva-nos também a repetir, compulsivamente, atitudes negativas e destrutivas. E o que é pior: por não se conhecer, a pessoa segue repetindo sempre os mesmos padrões  negativos e destrutivos.

Infelizmente, são muitas as possibilidades de padrões negativos e destrutivos aprendidos na infância que podem criar dilemas inconscientes que acabam levando a pessoa a agir contra si mesma na idade adulta. Um bom exemplo são  as relações abusivas que envolve ( violência física, psicológica e sexual) na vida a dois. É essa a violência  privada que  chamo de "fundo do poço" e que muitas vezes é a partir daí que alguns casais procuram ajuda psicológica, com o objetivo de romper com os padrões negativos e destrutivos no modo de se relacionar e emergir para uma nova concepção saudável de relacionamento. Por outro lado, outros tantos vivem afundados no ciclo da autossabotagem, repetindo padrões de comportamentos  negativos e destrutivos mantenedores das relações abusivas, já que a familiaridade com o problema e as reações a ele criam uma segurança neurótica no casal. Isto é, a paralisia e o torpor são mais aceitáveis do que o aprendizado de novos padrões. Mas, sem sombras de dúvidas, torna-se muito mais complicado manter relacionamentos doentios do que saudáveis. Então, para uma vida a dois leve, equilibrada e estável, o caminho é o autoconhecimento.



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