domingo, 11 de dezembro de 2016

O INCONSCIENTE NA SUA VIDA


Por NéaTauil



Muito já se falou sobre o inconsciente, mas poucas vezes, em nossas ações cotidianas, nos damos conta de que estamos agindo regidos por ele. Estima-se que mais de 90% de tudo o que fazemos têm influência de nosso inconsciente. Por exemplo: a escolha do parceiro ou parceira, a profissão que exercemos, a cidade ou a residência em que moramos, etc. Ou seja, temos consciência de só uma pequena parte de nossas atitudes, em comparação a área de funcionamento inconsciente, que é muito mais extensa, abrangendo os fenômenos de que a pessoa, "na maior parte do tempo", não se dá conta." É por isso que Sigmund Freud - considerado o pai da psicanálise - representa essa ideia, usando a metáfora do iceberg como um modelo da mente, onde a parte que fica na superfície é o consciente, e a maior, a submersa, é o local relativo ao inconsciente. Essa metáfora pretende mostrar para as pessoas que, muitas vezes, há muito mais verdade, além do que os nossos olhos conseguem ver.

Há décadas, o inconsciente é foco de discussões a respeito de sua formação e conteúdo. Mas, as teorias de Freud ainda são referenciais importantes para os estudos do inconsciente. Freud já defendia que apenas uma pequena fração das nossas memórias encontra-se ativada, demarcando os limites da consciência. Todas as demais estão em estado latente, ou seja, escondidas. Com o avanço da neurociência, algumas ideias de Freud foram revistas e, na concepção contemporânea, o inconsciente é nada mais do que a soma de nossas memórias, é um depósito infinito de experiências de vida. Porém, a forma como as memórias serão  arquivadas, isto é, de forma positiva ou negativa, irá depender da história de vivência de cada um. 

Sem dúvida, os acontecimentos da vida de uma pessoa podem influenciar posteriormente seu comportamento e suas reações ao encarar a  própria vida, suas relações e seu posicionamento frente a elas porque, de alguma maneira, ficaram "arquivadas" em algum lugar do cérebro que, um dia, serão usadas, já que é simplesmente impossível preservar nossas memórias e conhecimentos apreendidos e ainda ter plena consciência deles. Ou seja, as informações do ambiente que vamos captando,  a todo momento através dos nossos sentidos ( audição, visão, olfato, paladar, tato, etc.) o cérebro leva para o nível inconsciente, onde tudo pode entrar no piloto automático. Isso quer dizer que durante o desenvolvimento infantil, tudo o que a criança absorver das primeiras experiências, dos incidentes felizes ou infelizes e condicionamentos transmitidos através do comportamento, dos sentimentos e atitudes dos pais ou cuidadores, no dia a dia, deixa gravações psíquicas e emocionais registradas para sempre em seu inconsciente. Isto é, a criança terá inscrito em si um padrão, características "formatadas" nessas relações fundamentais com os pais,  e na idade adulta, não se dá conta que está sendo influenciada por esses padrões, na  sua forma de pensar, de sentir e de agir. Porém, o problema são os padrões negativos e destrutivos aprendidos na relação com os pais ou cuidadores. Segundo Freud, as pessoas podem ter compulsão por repetir atitudes penosas e até buscar más situações. É a repetição do ruim, do desprazer. Ou seja, repetição dos padrões negativos e destrutivos que estão registrados no inconsciente. E o que é pior: a pessoa segue repetindo sempre os mesmos padrões negativos e destrutivos porque não consegue controlar este impulso, que volta a se repetir de forma súbita e sem controle. Infelizmente, são muitas as possibilidades de padrões negativos e destrutivos aprendidos na infância que podem criar dilemas inconscientes que acabam levando a pessoa a agir contra si mesma na idade adulta. 

Como podemos ver, o inconsciente não se manifesta na vida de cada pessoa apenas em lapsos, atos falhos ou sonhos. Na real, ele é uma força que está por trás de todas as nossas escolhas e repetições de comportamento. Entretanto, como foi dito anteriormente, a maneira como o inconsciente interfere em cada pessoa é relativo, já que leva em consideração a história de vivência de cada um, conforme as representações sociais introjetadas pela família em que está inserida. Então, não é por outra razão que o mesmo inconsciente que nos impulsiona a repetir comportamentos bem-sucedidos, leva-nos também a repetir, compulsivamente, atitudes que conduzem ao fracasso. Mas, o que fazer para deixar de repetir os padrões negativos e destrutivos que nos fazem sofrer? A melhor forma é  trabalhar - por meio da psicoterapia - as muitas questões  com as figuras de pai e mãe, traumas, conflitos, crenças, perdas  que foram inconscientizadas e trazê-las para a consciência, a fim de transformá-las em algo produtivo que possa contribuir com a pessoa, possibilitando, assim, o rompimento com os padrões negativos e destrutivos que conduzem a repetição do desprazer.



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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

CIRCUITO DO CIÚME

Por Néa Tauil


A insegurança emocional e o medo intenso da perda são os principais desencadeadores do ciúme dentro de uma relação. Quase sempre há prejuízos para quem sente, para quem é alvo e para o relacionamento, pois não há nada mais sufocante do que a insegurança de alguém que aposta no controle do outro, em vez de lidar com suas próprias questões.  

Desde a origem do ciúme até que se cumpre o temido, há um circuito pelo qual transitará a pessoa ciumenta, já que os seus  pensamentos irracionais se traduzem em comportamentos compulsivos, sustentados pela ilusão de que é possível controlar o que o parceiro/a faz ou sente.

Veja abaixo o circuito e entenda por que - discreto ou exagerado - o ciúme é sempre tirano e limitador:

1- Sentir a ameaça: A pessoa ciumenta sente que há um terceiro, que pode ser real ou imaginário, que vem roubar seu amor, seu trabalho, seu amigo/a ou o que quer que seja. E a pessoa vê esse terceiro como um ladrão.

2- Controlar: O ciumento começa a controlar, vigiar, revisar, seguir, para descobrir a prova que assegure que isso que ele pensava, que o terceiro vem roubar, é verdade. Se olhar não é suficiente, vai começar com um interrogatório. Por mais respostas que se dê ao ciumento, isso nunca será suficiente. Então, volta a perguntar, interpretando da sua maneira e insistindo para que contem tudo de novo.

3- Proibir: O ciumento vai começar a tentar evitar, por exemplo, que sua esposa se arrume, ponha perfume ou que se vista bem. A vítima do ciúme, a princípio, aceitará as sugestões por se sentir cuidada. Mas esse cuidado, depois, passará a ser proibição. Não coloque essa saia porque é muito curta. Não se pinte porque fica parecendo uma louca. Muitas pessoas falsamente acham que ser vítima de ciúme é ser amada.

4- Perdão: O ciumento pede perdão, chora, dá presentes, faz convites. Tudo volta à normalidade até que reaparece um terceiro, real ou imaginário, e começa outra vez com o círculo: ciúme, cenas, perdão, normalidade, ciúme...

5- Profecia autocumprida: Efetivamente, o medo de perder se cumpre. A pessoa abandona o ciumento. O medo sempre realiza o que é temido, porque o medo é fé no mau, e a fé funciona para o bem ou para o mal.






Fonte: Stamateas, Bernardo (2010). Emoções Tóxicas. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil.
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domingo, 30 de outubro de 2016

O QUE É BORDERLINE?

Por  Néa Tauil

A palavra borderline tem origem inglesa. Seu conceito remete à alusão de um estado limite da personalidade, como se houvesse uma linha, uma borda. Originalmente, o termo borderline foi utilizado, dentro da terapia psicodinâmica, para definir aqueles pacientes que se mantêm no limite entre a neurose e a psicose.  Muitas vezes, esses pacientes também recebem a denominação de ¨paciente fronteiriço¨ ou ¨limítrofe¨.

O quadro borderline é considerado como um distúrbio da personalidade. Os pacientes apresentam sensações, muitas vezes, conflitantes, como raiva, tristeza, vergonha, pânico, terror e sentimentos crônicos de vazio e solidão. Eles mudam com frequência de um estado a outro e apresentam alteração na cognição. O borderline tem experiências de despersonalização e perda da  percepção da realidade. Podem existir sintomas psicóticos, com episódios transitórios de ilusões e alucinações. Outro traço é a impulsividade. Há borderlines destrutivos que apresentam comportamento suicida e até mesmo automutilação. Outros abusam de drogas, tem desordens alimentares, participam de orgias, apresentam explosões verbais e direção imprudente. Esses pacientes se envolvem em relacionamentos intensos e instáveis. Ora idealiza, ora desvaloriza o outro. O problema mais comum é o grande medo de abandono, que tende a se manifestar em esforços desesperados para evitar ser deixado sozinho. 

Há outras informações importantes sobre o borderline que merecem ser conferidas na palestra ministrada pelo meu querido amigo Dr. Herberto Edson Maia, médico psiquiatra e professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA Assista o vídeo e conheça-as!

                        

domingo, 25 de setembro de 2016

FANTASIA SEXUAL EM PERGUNTAS E RESPOSTAS


1 - O QUE É UM FANTASIA SEXUAL?
Uma fantasia sexual pode ser definida como uma imagem, um pensamento ou um drama plenamente elaborado, que passa pela nossa mente, sobretudo, durante a atividade sexual - tanto coital quanto masturbatória -, frequentemente resultando em um orgasmo. As fantasias sexuais devem ser diferenciadas dos devaneios ou pensamentos sexuais fugazes. Elas podem ser muito simples ou extremamente complexas, tenras ou sádicas e podem nos causar prazer ou dor psicológica. Em geral, mantemos nossas fantasias sexuais escondidas de nossos parceiros e até mesmo de nossos psicoterapeutas, ou de outros confidentes. 

2 - EM QUE CONSISTE UMA FANTASIA SEXUAL¨NORMAL¨?
Tendo estudado mais de 19 mil fantasias sexuais britânicas, não posso identificar uma fantasia denominada ¨normal¨. Seria fácil demais descrever como normal apenas as que envolvem o ato sexual genital amoroso com o parceiro ou esposo de longa data. Certamente, entrevistei muitas pessoas casadas e felizes que abrigavam fantasias agressivas, que de fato incluíam frequentemente seus esposos amados. Com base nos dados, devo concluir que a mente britânica contém muita diversidade e complexidade e, portanto, falar em uma fantasia ¨normal¨ talvez não faça qualquer sentido. 

3 - ANTES DE MAIS NADA, POR QUE TEMOS FANTASIAS SEXUAIS?
Realmente não sabemos como e por que as fantasias sexuais se desenvolvem. Os psicólogos evolucionistas sugerem que elas contribuem para a facilitação da excitação sexual, o que, por sua vez, ajuda a procriação. Logo, as fantasias sexuais podem exercer um papel importante e previamente não reconhecido na propagação continuada da espécie humana. Os psicoterapeutas e psicanalistas Freudianos, em contraste, afirmam que elas podem ter se desenvolvido como um meio de satisfação de desejos e de dominação de memórias intrusivas de experiências traumáticas na infância. 

4 - A QUE PROPÓSITO OU PROPÓSITOS SERVEM NOSSAS FANTASIAS SEXUAIS?
Já inumerei 14 razões distintas para fantasiarmos, abrangendo a satisfação de desejo, a dominação do trauma, a automedicação contra a dor e a elaboração do jogo infantil. Para muitos, as fantasias permanecem uma ponte infindável de divertimento e prazer; para outros, uma lembrança constante de feridas originadas na infância. Para uma grande porcentagem de indivíduos, nossas fantasias fornecem prazer e dor simultaneamente. Elas servem, sem dúvida, a uma multiplicidade de funções interrelacionadas.

5 - TODO MUNDO TEM FANTASIAS SEXUAIS?
De acordo com os psicanalistas, todas as pessoas têm estruturas de fantasias inconscientes; em outras palavras, tendências subterrâneas para ter certas preferências ou para agir de certa forma previsível ¨seja sádica, masoquista, depressiva e assim por diante¨. Na maioria dos adultos essas estruturas inconscientes de fantasias encontram uma representação em suas fantasias sexuais conscientes, que ocorrem durante a masturbação ou a relação sexual. De acordo com o Projeto de Pesquisa das Fantasias Sexuais Britânicas, pelo menos, 90% de todos os adultos britânicos experimentam devaneios que podem ou não ser de natureza sexual. Quanto às fantasias sexuais, os dados revelam que aproximadamente 96% dos homens adultos britânicos relatam ter fantasias sexuais e cerca de 90%¨das mulheres adultas britânicas também. Devemos observar que esses podem ser números conservadores, já que encontrei muitos indivíduos ao longo dos anos que professam, assim que não perguntados, não terem qualquer fantasia, porém, frequentemente durante o decorrer a psicoterapia admitirão fantasiar de uma maneira sexual. 

6 - DEVEMOS NOS PREOCUPAR SE NÃO TEMOS NENHUMA FANTASIA?
Um outro estudo seria necessário para avaliar as características de personalidade daqueles que não fantasiam. No momento, não podemos fazer uma diferenciação confiável entre os que relatam fantasias sexuais e os que não o fazem. Com base em minha experiência clinica, no entanto, observei, embora informalmente, que muitos dos que afirmam não ter fantasias sexuais podem estar lutando com fortes sentimentos de vergonha e culpa relacionados a questões sexuais e podem utilizar o mecanismo defensivo de repressão como um meio de banir todos os pensamentos sexuais da mente.

7 - DEVEMOS COMPARTILHAR NOSSAS FANTASIAS COM NOSSOS COMPANHEIROS?
Como já ressaltei, não posso fornecer uma resposta definitiva para a mais complexa das questões. Relatei casos em que os companheiros parecem ter se beneficiados da discussão de suas fantasias sexuais entre si; porém, da mesma forma, também identifiquei alguns casais que experimentaram grandes sofrimentos ao tomar conhecimento das mais verdadeiras fantasias do companheiro. Alguns casais afirmaram que arriscar revelações de tais assuntos íntimos promovem maior confiança e união emocional. Muito depende, claro, da força do vínculo preexistente do casal. Acima de tudo, deve-se refletir bem antes de decidir se compartilharemos ou não a maioria de nossas fantasias sexuais privadas.

8 - DEVEMOS COMPARTILHAR NOSSAS FANTASIAS COM NOSSOS AMIGOS?
Frequentemente, pode ser menos expositivo e mais administrável compartilhar fantasias com amigos do que com companheiros. Conheço muitos homens, por exemplo, que não hesitariam em falar sobre casos extraconjugais ou fantasias de estupro com seus amigos em um jogo de pôquer sexta-feira à noite, mas que nunca sonhariam em discutir tais fantasias com as companheiras, por medo de causar dor ou ofensa. Da mesma forma, entrevistei várias mulheres que compartilharam fantasias com as amigas, sobretudo as que envolviam homens com órgãos genitais extremamente grandes, mas que não as revelariam a seus maridos ou namorados por medo de gerar sentimento de inadequação. Embora a revelação das fantasias para um amigo possa ser um ato de grande confiança e servir para enriquecer a amizade, deve-se lembrar que as amizades podem desandar, e frequentemente desandam, promovendo, às vezes angústias paranoicas de que as promessas de confidencialidade sejam quebradas com a amizade.

9 - SERIA RECOMENDÁVEL ENCENAR NOSSAS FANTASIAS SEXUAIS COM NOSSOS AMANTES?
Encenar fantasias sexuais exige muita compaixão, criatividade e confiança por parte dos companheiros. Vi muitos casamentos acabarem quando tais encenações deram errado. Certamente, os psicoterapeutas recomendariam grande consideração antes da encenação de uma fantasia sexual, pois uma fantasia e uma realidade podem ser experimentadas muito diferentemente. Deve-se também estar preparado para algumas surpresas. Recentemente, entrevistei uma mulher que cedeu ao desejo do marido de estapeá-la e xingá-la de ¨puta¨. Quando o marido descreveu o cenário potencial, a mulher ficou excitada e consentiu. Porém, quando o casal realmente encenou a fantasia, a mulher se sentiu ¨desvalorizada¨, ¨revoltada¨ e profundamente arrependida de sua decisão. Para muitos de nós, a fantasia excita precisamente porque nunca será realizada.

10 - NOSSAS FANTASIAS PODEM SER PREJUDICIAIS OU PERIGOSAS?
Em alguns exemplos, as fantasias sádicas podem servir como degraus para ações sádicas. Meus colegas e eu, no campo de saúde mental forense, certamente reconhecemos muitos casos de pacientes cujas carreiras criminosas começaram em suas mentes. Uma vez, há anos, tive a oportunidade de entrevistar um assassino em série psicótico em um ambiente de segurança máxima. Aprendi que, antes de sua prisão, este homem conseguia fazer amor com a mulher apenas se fantasiasse que segurava um canivete. Alguns anos antes, ele realizara uma chacina, usando uma faca como arma causando muita carnificina. Claro, nem todos os exemplos são tão dramáticos quanto esse, mas em muitos outros, as fantasias podem ainda nos prejudicar, reforçando padrões de comportamento e pensamentos autodestrutivos.

11 - SE FANTASIAMOS COM SEXO ¨CONVENCIONAL¨ ISSO SIGNIFICA QUE SOMOS CHATOS?
Continuo muito impressionado com o número de pessoas que encontrei que temiam ter fantasias ¨chatas¨, sobretudo as que envolviam fazer amor com o namorado ou a namorada, o marido ou a esposa. No entanto, não encontro nenhuma correlação formal e documentável entre a riqueza da vida de fantasia e a riqueza da vida exterior (conforme medida pela fluência conversacional, a realização acadêmica e muitas outras variáveis). Do ponto de vista clínico, no entanto, descobri que muitos entrevistados que compartilhavam fantasias sexuais simples e não elaboradas eram simplórios e não articulados em seu comportamento geral; logo, pesquisa subsequentes podem talvez estabelecer um elo entre a riqueza do conteúdo de nossas fantasias e de nossa vida social, profissional e doméstica. Contudo, não posso oferecer uma conclusão definitiva a respeito desse assunto. 

12 - SE TEMOS FANTASIAS MUITO ESTRANHAS, ISSO SIGNIFICA QUE DEVEMOS SER MENTALMENTE DESEQUILIBRADOS?
Aqueles indivíduos que apresentaram fantasias muito elaboradas e complexas pareciam ser de todos os tipos diferentes. Entre os entrevistados clínicos cujas fantasias podiam ser descritas como ¨estranhas¨, não detectei nenhum traço de doença mental formal. Na verdade, o participante mais psicologicamente perturbado do grupo de entrevistas tinha, de fato, as fantasias menos complexas e intrigadas de todos os vários participantes da pesquisa.

13 - SE FANTASIAMOS COM NOSSOS COMPANHEIROS DURANTE O SEXO OU DURANTE A MASTURBAÇÃO, ISSO SIGNIFICA QUE TEMOS UM BOM RELACIONAMENTO COM ELES?
Os homens e as mulheres que fornecem provas de ter um coeficiente alto de fidelidade - em outras palavras, aqueles que regularmente fantasiam com seus esposos ou companheiros costumeiros - frequentemente, embora não invariavelmente, têm um relacionamento bom e forte. Entretanto, conheço muitos casamentos bastante sólidos nos quais nenhum dos companheiros fantasia com o outro, oferecendo portanto, prova de um coeficiente baixo de fidelidade. Da mesma forma, conheço casais com um coeficiente alto de fidelidade, que fantasiam frequentemente com os esposos que também se envolvem em múltiplos casos extraconjugais e que relatam casamentos muito amargos e estressados.

14 - SE FANTASIAMOS COM ALGUÉM QUE NÃO NOSSO COMPANHEIRO DURANTE O SEXO OU A MASTURBAÇÃO, ISSO SIGNIFICA QUE NOSSO RELACIONAMENTO PODE ESTAR COM PROBLEMAS?
Se nos encontramos envolvidos em um caso intraconjugal, isso não significa necessariamente que nosso relacionamento esteja com problemas. Contudo, o caso intraconjugal pode frequentemente ser um prenúncio de dificuldades conjugais subsequentes. Ao fantasiarmos com alguém que não nosso parceiro costumeiro, nosso inconsciente terá criado para nós uma oportunidade de examinar nosso relacionamento - uma oportunidade para indagar privada e honestamente se existem dificuldades que terão nos atirado nos braços de um amante fictício. Podemos concluir nosso autoexame satisfeitos com o conhecimento de que nosso relacionamento permanece intacto e que nosso caso intraconjugal representa nada mais que uma farra lúdica. 

15 - SE FANTASIAMOS COM ALGO ILEGAL, ISSO SIGNIFICA QUE CORREMOS O RISCO DE ENCENÁ-LO?
Felizmente, a fantasia com frequência exerce uma função refreadora extrema sobre a mente humana e, como resultado, conseguimos encapsular alguns dos aspectos mais agressivos e destrutivos de nossa personalidade no próprio conteúdo da fantasia. Falei com muitos médicos, padres, assistentes sociais, enfermeiras e outros membros das ¨profissões de assistência¨ que tiveram fantasias muito violentas as quais nunca foram encenadas e nunca serão. Se, no entanto, a fantasia se tornar perversa, em outras palavras, sádica sem mitigação, compulsivamente repetitiva e contínua, então o indivíduo corre o risco maior de acabar encenando-a. Entretanto, felizmente, mesmo aqueles com fantasias pedófilas fortes e perversas, por exemplo, com frequência evitam qualquer dano a criança na vida real. Se alguém está lutando com fantasias ¨ilegais¨ de crueldade e tortura, isso pode indicar uma dificuldade grave com a agressão, em virtude de um trauma infantil; e em tais exemplos, seria prudente consultar um profissional de saúde mental habilitado, sobretudo se essa pessoa se preocupa com a possibilidade de uma posterior encenação da fantasia. 

16 - NOSSAS FANTASIAS REPRESENTAM APENAS UMA PARTE DA DIVERSÃO PRIVADA, OU ELAS TÊM MAIS IMPLICAÇÕES PROFUNDAS NA FORMA COMO LIDAMOS COM NOSSAS VIDAS?
No capítulo 25 em que foi relatado o fenômeno ¨quarto - escritório¨, levantei a hipótese de nossas fantasias poderem determinar não apenas como abordamos as relações íntimas, mas também as vidas profissionais. Suspeito que o quarto invade o escritório mais perigosamente naqueles indivíduos com histórias de traumas que não foram processados ou tratados, mas isso pode não ser invariavelmente o caso. Para muitos, a fantasia permanece seguramente encapsulada ou integrada à mente, para que esta possa funcionar com um grau razoável de ausência de conflito.

17 - COMO EXPLICAMOS A GAMA DE FANTASIAS EXPERIMENTADAS PELOS SERES HUMANOS? EM OUTRAS PALAVRAS, POR QUE ALGUMAS PESSOAS PREFEREM BEIJOS E ACONCHEGOS ENQUANTO OUTRAS GOSTAM DE SENTIR DOR FÍSICA AGONIZANTE?
Tenho duas respostas para esta pergunta específica. Grosso modo, o conteúdo e a estrutura de nossas fantasias dependem da natureza de nossas experiências infantis. Aqueles indivíduos que experimentaram um grande trauma na infância serão mais propensos a fantasias de sadismo regulares. No entanto, alguns indivíduos com histórias horrorosas de abuso têm fantasias muito ternas, mas apenas porque, em minha avaliação, eles encenam o abuso em atividades destrutivas na vida real. Entretanto, conheci muitas pessoas com histórias relativamente estáveis que têm fantasias muito assustadoras, e devemos admitir a possibilidade de que as fantasias com tons agressivos possam resultar não apenas de trauma primário, mas também da criatividade e da capacidade de se permitir regressar a um estado mental mais primitivo, sem se fixar em um nível infantil de funcionamento. Em outras palavras, as fantasias mais agressivas e destrutivas se originam de abuso na infância, mas, em alguns casos, elas podem realmente representar uma ampliação do ser, ao adquirir a capacidade de expandir a mente para incluir toda a variedade de experiências humanas sem realmente encená-las.

18 - É POSSÍVEL TROCARMOS DE FANTASIAS?

Na maioria das vezes, meus dados clínicos indicam que as estruturas da fantasia permanecem razoavelmente constantes durante toda a vida adulta. No entanto, sei que mudanças no estado emocional do relacionamento íntimo de um indivíduo podem abastecer ou sufocar constelações de fantasias específicas. Um de meus pacientes, um cumpridor da lei, tinha muitas fantasias masturbatórias agressivas de estuprar mulheres; entretanto, essas fantasias ganhavam força somente quando ele brigava com a esposa. Durante os períodos de harmonia conjugal, o paciente parecia ter muito menos necessidade de se masturbar com fantasias de estupro. Deve-se também mencionar, talvez, aquilo que passei a chamar de ¨Complexo de Krakatoa¨, um fenômeno em que algum evento externo ou interno serve de gatilho, abrindo um mundo completamente novo de possibilidades de fantasias que estavam adormecidas, muitas vezes, por muitos anos. No entanto, temos poucos casos reportados na literatura de psicoterapia clínica sobre mudanças estruturais na natureza das fantasias masturbatórias para tirarmos qualquer conclusão embasada. A maioria dos casos relatados de tratamento psicoanalítico duradouro não narra ou explora as mudanças no conteúdo ou na frequência, ao longo do tempo, das fantasias sexuais, porque, até aqui, a maior parte dos profissionais de saúde mental evitou investigar essa área de uma forma continuada.

19 - COM QUE FREQUÊNCIA MENTIMOS SOBRE NOSSAS FANTASIAS SEXUAIS?
Em retrospectiva, gostaria de ter incluído uma pergunta dessa natureza como parte da pesquisa administrada por computador para o Projeto de Pesquisa das Fantasias Sexuais Britânicas. Não sei a resposta para ela, embora, com base em meu trabalho clínico, desconfie de que os seres humanos mentem, com muita regularidade, sobre suas fantasias. Em um número muito grande de casos, tanto em minhas entrevistas psicodiagnósticas quanto em minha prática psicoterápica com pacientes, continuo impressionado com o número de vezes em que homens e mulheres prefaciam suas discussões sobre fantasias sexuais com uma frase qualificativa: ¨Nunca contei isso para ninguém antes¨ ou ¨Não consigo acreditar que estou contando isso¨. Certamente, observei uma distinção entre as ¨fantasias verdadeiras¨ e as ¨fantasias de bar¨. Como mencionei anteriormente, um homem em um botequim compartilhando uma fantasia com amigos pode bem dizer a verdade quando relata um desejo de fazer sexo com Britney Spears, mas na maioria dos casos,  seu relato parará nesse ponto, desprovido de mais detalhes reveladores de seus desejos do que fazer na Britney Spears, ou com a Britney Spears, ou vice-versa. A fantasia sexual ainda permanece uma área de discussão relativamente tabu e, por causa de ignorância, vergonha e sigilo que ainda cercam o tópico, muitas pessoas mentem sobre o conteúdo de suas fantasias, inseguros acerca do tipo de reação que uma revelação mais honesta provocaria. 

20 - NOSSAS FANTASIAS SEXUAIS DIFEREM DE NOSSOS DEVANEIOS OU DE NOSSOS SONHOS?
As fantasias sexuais diferem dos devaneios e sonhos porque as fantasias mais sexuais envolvem material sexual explícito e culminam no orgasmo, enquanto os devaneios e sonhos não envolvem assuntos tão abertamente sexuais e não resultam em clímax. Claro, a linha entre cognição diurna e noturna e entre consciente e inconsciente pode rapidamente ficar pouco nítida. Às vezes, muitos garotos adolescentes experimentam uma ejaculação ou ¨sonho molhado¨ à noite mais poderosamente do que durante o coito ou a masturbação de dia. Uma análise mais abrangente e comparativa das diferenças entre esses estados variados da mente seria uma contribuição muito bem-vinda para os estudos psicológicos. 

21 - HÁ DIFERENÇAS ENTRE AS FANTASIAS QUE TEMOS DURANTE O SEXO COM UM PARCEIRO E AQUELAS ÀS QUAIS NOS ENTREGAMOS DURANTE A MASTURBAÇÃO SOZINHOS?
Existe uma diferença surpreendente entre as fantasias coitais, na presença de um parceiro, e as masturbatórias, na ausência de um parceiro - sobretudo, o coeficiente de fidelidade. Em outras palavras,  é muito mais provável que fantasiemos com nossos parceiros durante a relação sexual do que durante a masturbação. A complexidade de uma fantasia pode também depender da duração do ato sexual. Os que fazem sexo rapidamente podem não ter tempo suficiente para que uma fantasia detalhada se desenvolva, enquanto os que dedicam um período de tempo maior e mais voluptuoso à masturbação podem ser surpreendidos com o que pode surgir. Da mesma forma, o ato sexual prolongado pode produzir fantasias mais intrincadas e a masturbação rápida pode não exigir quase nenhuma estimulação de fantasia. 

22 - CONTROLAMOS NOSSAS FANTASIAS OU ELAS NOS CONTROLAM?
De várias formas, isso pode ser descrito como a questão-chave, assunto de muita disputa e controvérsia entre psicólogos e sexólogos. Como psicoterapeuta, conheci muitas pessoas, ao longo dos anos, cujas fantasias as perturbavam (por  causa de restrições religiosas, proibições parentais, repetições de abuso sexual no início da vida ou qualquer combinação desses fatores) e que tentavam desesperadamente apagar essas fantasias sexuais de suas mentes. No entanto, em quase todos os casos, elas continuavam a irromper na consciência, estilo Krakatoa, e  não podiam ser facilmente evitadas. Certamente, os indivíduos muito traumatizados têm muito pouco controle consciente sobre suas fantasias. Um outro paciente, que afirmava conseguir fantasiar com ¨qualquer e toda coisa¨, se descreveu como um ¨escultor erótico¨. Ele comentou: ¨Dê-me um tópico e eu o transformarei em uma fantasia, exatamente como um escultor faz com um bolo de argila.¨ Sem dúvida, algumas pessoas conseguem controlar melhor a direção de suas fantasias. Contudo, descobri que, na maioria dos casos, não conseguimos ser os arquitetos finais de nossas fantasias sexuais, por mais que o desejamos. Como um jovem paciente gay me relatou: ¨ Se eu pudesse ser hétero, eu seria. A vida seria muito mais fácil, e meus pais não me causariam tantos problemas. Mas não posso. Simplesmente não consigo fantasiar com mulheres. Então, é isso aí. ¨ Deve-se admitir a possibilidade de que, embora alguns britânicos consigam esculpir suas vidas eróticas, para muitos, são as inclinações eróticas que os esculpirão.





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Fonte: Kahr, Brett (2009). O Sexo e a Psique. Rio de Janeiro: BestSeller.
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domingo, 28 de agosto de 2016

DEPENDÊNCIA AFETIVA NA RELAÇÃO AMOROSA


Por Néa Tauil





Do ponto de vista da saúde mental, saudável é amar e ser amado na medida certa, porque tanto amor quanto apego em excesso pode por o relacionamento em risco. Mas, de fato, reconhecer o limite  entre o amor e a dependência afetiva nem sempre é fácil, pois aprendemos a nos enganar com a ideia de fusão embutida no amor romântico, predominante no imaginário coletivo. Ou seja, aquele amor em que cada um entra com uma metade, tornando-se ¨duas metades de uma só laranja¨.


A questão, entretanto, é: relacionamentos saudáveis são feitos de dois inteiros, não de duas metades e amor é diferente de dependência afetiva. Amor significa respeito, gentileza, troca (dar e receber)... Dependência afetiva é uma necessidade excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso, aderente e de temores a separação. Ela pode sufocar a união, deixá-la sem ar, sem espaço para que apareça a singularidade de cada parceiro. Porém, confundir amor com dependência afetiva é algo bastante comum, pois há muitos adultos que não amadurecem emocionalmente e permanecem como crianças num relacionamento amoroso, chamando de amor, o que na verdade é uma necessidade. 

Em geral,  a pessoa  dependente de afeto necessita da aprovação, aceitação e reconhecimento do outro, para lidar com as situações da vida, já que não acredita no seu próprio valor, no seu poder de tomar decisões e fazer escolhas. A percepção de si mesma é muito frágil. Sente-se incapaz de agir adequadamente, sem o auxílio de outras pessoas, por isso, recorre frequentemente aos outros para ser orientada, ajudada e direcionada.Não acredita na própria capacidade, apresenta baixa tolerância à frustração, pouca capacidade para o sofrimento e ilusão de permanência. Associadas a essas dificuldades, também são apresentadas vulnerabilidade ao sofrimento, o medo do abandono, a baixa autoestima e os problemas  de autoconceito (WALTER RISO, 2011). Tende a se anular por um lado e, por outro, a cobrar em demasia. Há casos em que a dependência é tão intensa e as crises de abstinência tão fortes que chega ao ponto de aprisionar o(a) parceiro(a), ou de desejar que este(a) adivinhe suas necessidades, sentimentos, dificuldades, e tende a atribui-lo(a)  a responsabilidade do seu próprio bem-estar. Muitas vezes, depender de afeto conduz o dependente a aceitar qualquer tipo de relação, por medo de perder a outra pessoa, de ser abandonado e, muitas vezes, tolera todos os tipos de abusos - desde o físico, psicológico e até o sexual.


Estudos comprovam que a tendência para a pessoa desenvolver dependência afetiva, na vida adulta, está relacionada tanto à falta quanto ao excesso na demonstração de amor, atenção e carinho por parte dos  pais/cuidadores. Ou seja, se as primeiras experiências afetivas das crianças  forem frustrantes, insatisfatórias e frias, vividas na relação com pais negligentes, ausentes ou aqueles excessivamente rígidos e incapazes de demonstrar afeto, levando as crianças a não se sentirem amadas, queridas e importantes - na vida adulta - normalmente irão sentir a necessidade, quase que vital, de depender do amor de outra pessoa, já que não viveram isso em sua fase mais precoce. Por outro lado, se  os pais forem superprotetores, sempre cobrindo os filhos de cuidados excessivos, tentando poupá-los de toda e qualquer frustração, sofrimento, angústia, dificuldades, problemas, isso, de certa forma, promoverá um descrédito na capacidade deles, além de desenvolver uma inabilidade para solucionar seus próprios problemas, gerada pelo medo de errar, em um processo crescente, que culmina na incapacidade de gerenciar a própria vida quando adultos, pois passam de crianças mimadas a adultos frustrados, que não conseguem abandonar o modelo infantil ao se relacionar com a realidade, andando sobre ilusões, sem autonomia e, consequentemente, sem independência.

De forma mais específica, pode-se dizer que por trás de toda dependência há medo e, mais ainda, algum tipo de incapacidade. Por exemplo: se sou incapaz de tomar conta de mim mesmo, terei medo de ficar só e me apegarei às fontes de segurança disponíveis representadas por diferentes pessoas (WALTER RISO, 2011). Na dependência afetiva, essas pessoas ou objetos têm uma única função para o dependente afetivo:  dar a sensação de segurança que precisa para suportar problemas, tensões e dificuldades pessoais ou sociais. Infelizmente, o resultado é o vício afetivo que tem as características destrutivas como  a de qualquer outra adição. Adição é o vício, e geralmente está relacionado às drogas ilícitas. Mas a adição pode também significar qualquer dependência psicológica ou compulsão, como jogo (bingo, pôquer, etc), comida, sexo, pornografia, internet, vídeo games, exercício físico, trabalho, compras, etc. A diferença entre o vício afetivo e os outros é  a de que para o mal do amor não existem campanhas divulgando prevenção ou tratamento.

Não há como negar que  certa dose de dependência amorosa é comum e, às vezes, romântica, mas os amantes precisam ter muito cuidado com o exagero, pois depender da pessoa que se ama é uma maneira de se enterrar em vida, um ato de automutilação psicológica em que o amor próprio, o autorrespeito e a nossa essência são oferecidos e presenteados irracionalmente (WALTER RISO, 2011). Então, o que fazer para superar o ciclo vicioso da dependência afetiva? Uma ação possível é a busca de tratamento psicológico para  investir em autoconhecimento, já que conhecer a si próprio, aumenta a autoestima, que por sua vez, faz a pessoa se sentir mais segura e confiante para viver cada vez melhor, com independência, autonomia e condições para respeitar e valorizar a individualidade tanto do outro como a própria,  pois os outros entram em nossa sintonia e repetem o que emanamos.


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Referência:
Riso, Walter. Amar ou Depender? Porto Alegre - RS: L&PM, 2011.


sábado, 9 de julho de 2016

DEPRESSÃO: UMA DOR QUE REMÉDIO NÃO CURA

Por Néa Tauil 







Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos sobre as doenças mentais e sobre o papel do psicólogo, talvez isso seja o motivo pelo qual milhões de pessoas em todo mundo tomam antidepressivos, seguindo receitas de seus médicos, mas a maioria desconhece o fato de que os antidepressivos sem psicoterapia não têm efeito. 

Estudos recentes vêm mostrando que os antidepressivos restauram a capacidade de determinadas áreas do cérebro a fim de contornar rotas neurais cuja funcionalidade esteja, de alguma forma, comprometida. Mas essa mudança só trará benefícios se acompanhada de uma mudança no comportamento da pessoa - mudança esta obtida com o auxílio da psicoterapia. É para isso que o neurocientista - Eero Castrén, da Universidade de Helsinque (Finlândia) - alerta, quando diz: "Simplesmente tomar antidepressivos não é o bastante. Nós precisamos também mostrar ao cérebro quais as conexões desejadas". Isso significa que se o ambiente e a situação da pessoa permanecerem inalterados, a droga não tem capacidade para induzir mudanças no cérebro.

Não se pode negar que o organismo é um só: se algo não vai bem em uma das partes, outras poderão ser afetadas. É o que acontece na relação mente e corpo. Ou seja,  o funcionamento da pessoa é determinado pelo seu corpo e, especialmente, pelo seu cérebro. É dito também, com frequência, e é correto, que os acontecimentos da vida do indivíduo, especialmente de sua infância, interferem grandemente no funcionamento da sua personalidade e na sua maneira de viver. De fato, os sentimentos são capazes de reger as ações humanas. É, inclusive, através das emoções que determinadas situações - como acidentes ou episódios de difícil superação - ficam marcadas na mente como traumas, que podem se transformar em doenças psíquicas. Isso mostra que os fatores psíquicos e os fatores físicos não agem isoladamente. Dessa forma, cuidar da parte psíquica é também uma forma de garantir melhor a saúde física, já que o cérebro está diretamente ligado ao sistema imunológico e ao bom  ou mau funcionamento do organismo. O estado depressivo é um exemplo, pois tanto pode estar expresso ( perda do interesse em atividades que antes eram prazerosas, ausência de planos para o futuro, isolamento social ou baixa autoestima, redução na capacidade de cuidar de si mesmo, etc.) quanto oculto por um sofrimento psicossomático (enfermidade física derivada de fatores psicológicos), já que na vigência de uma doença depressiva, hormônios do estresse são liberados na circulação. Eles enfraquecem o sistema imunológico, o que poderá acarretar várias doenças autoimunes ou enfermidades cuja prevenção dependerá do funcionamento adequado do sistema de defesa do corpo. É bom salientar que o paciente deprimido nem sempre apresenta para os amigos e família aquele clássico comportamento de tristeza excessiva, pois para estar deprimido não é preciso passar o dia inteiro na cama chorando.

Como vimos anteriormente, os antidepressivos não são uma cura por si só; seu papel é o de restaurar a plasticidade no cérebro e para que resultados duradouros sejam realmente alcançados, é preciso que haja mudança no comportamento da pessoa,  pois a depressão é, acima de tudo, uma dor humana que precisa ser escutada, e isso só é possível com a presença do outro - psicólogo ou psicanalista - que possibilitará o processo terapêutico, que por sua vez, ajudará a pessoa rever as condições do ambiente onde cresceu, repensar os modelos parentais e como exerciam suas funções, a forma como foi educado, as crenças negativas em que acreditou, dissolver as culpas, aumentar a autoestima, reviver e dar-se conta das emoções e dos sentimentos que foram negados e rejeitados, enfim, reelaborar as experiências traumáticas e reorganizar o mundo interno - pois isso é algo que não pode ser alcançado pelos antidepressivos - mas sim, através da psicoterapia. 



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sexta-feira, 24 de junho de 2016

PÊNIS E CLITÓRIS: QUAL A SEMELHANÇA ENTRE ELES?

Por Néa Tauil

Embora seja pouco perceptível, pênis e clitóris têm semelhanças em vários aspectos. Além de formado por um tecido erétil, parecido com o do órgão sexual masculino, o clitóris, enche-se de sangue e cresce quando estimulado, como acontece na ereção masculina. Ele também vem acompanhado do prepúcio, a pele protetora que envolve a glande, etc. Além das semelhanças, há outras informações importantes sobre o assunto que merecem ser conferidas no vídeo. Assista e conheça-as!                                              



sexta-feira, 27 de maio de 2016

OS PROBLEMAS DO MUNDO COMEÇAM EM CASA

Por Néa Tauil





A discussão acerca de que a maioria dos problemas do mundo começam em casa tem gerado polêmica. Mas, as evidências mostram que  uma criança não resolve, conscientemente, que irá crescer e ser um delinquente (que lesa outras pessoas), um pedófilo, um dependente químico descontrolado e autodestrutivo, um estuprador, um assassino em massa, uma prostituta, uma vítima que se deixa abusar pelos outros, ou uma pessoa perturbada por transtornos de ansiedade, depressão, dependência afetiva, impulsividade, culpa, insegurança, vergonha, pensamentos suicida, dificuldade de socialização e assim por diante. 

De fato, não se pode negar que, independente da forma da construção do núcleo familiar, seja ela tradicional ou moderna, permanece firme a importância do papel da família no desenvolvimento de cada indivíduo, pois ela é  uma instituição responsável por promover a educação dos filhos e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social.  Mas, infelizmente nem todo ambiente familiar é um local seguro, onde  existe harmonia, afetos, proteção e relações saudáveis.

Muito já se foi dito sobre os pais serem modelos para os filhos adolescentes, e as investigações mais atuais confirmam que são modelos, não só nessa fase da vida do filho, mas desde o momento do seu nascimento. Sem dúvida, os pais além de transmitirem para os filhos  traços físicos, como estatura corporal, cor de pele, cor dos olhos, etc., também transmitem certos padrões de funcionamento da personalidade. Inclusive pode acontecer que, por herança assim como por imitação, alguns mais nitidamente "puxam" ao pai e outros são semelhantes à mãe e ainda alguns têm uma combinação mais equilibrada das características de ambos. Ou seja, além das  semelhanças físicas  herdadas, os filhos também podem herdar os aspectos mentais ou psíquicos de funcionamento dos pais, que serão adquiridos através de aprendizado ativo ou por imitação.

É nesse contexto que se observa, de forma nítida, que as tendências familiares influenciam na formação de seus membros, que irão absorver aquilo que é transmitido através do comportamento, dos sentimentos e atitudes dos pais, no dia a dia. Isso significa que podemos herdar dos nossos pais e repetir na vida adulta comportamentos bem-sucedidos ou  atitudes erradas que conduzem ao fracasso.

De acordo com Dorothy L. Nolte (2003), as crianças aprendem o que vivenciam. Se vivem ouvindo críticas, aprendem a condenar. Se convivem com a hostilidade, aprendem a brigar. Se as crianças vivem com medo, aprendem a ser medrosas. Se as crianças convivem com a pena, aprendem a ter pena de si mesmas. Se vivem sendo ridicularizadas, aprendem a ser tímidas. Se convivem com a inveja, aprendem a invejar. Se vivem com vergonha, aprendem a sentir culpa. Se vivem sendo incentivadas, aprendem a ter confiança em si mesmas. Se as crianças vivenciam a tolerância, aprendem a ser pacientes. Se vivenciam os elogios, aprendem a apreciar. Se vivenciam a aceitação, aprendem a amar. Se vivenciam a aprovação, aprendem a gostar de si mesmas. Se vivenciam o reconhecimento, aprendem que é bom ter um objetivo. Se as crianças vivem partilhando, aprendem o que é generosidade. Se convivem com a sinceridade, aprendem a veracidade. Se convivem com a equidade, aprendem o que é justiça. Se convivem com a bondade e a consideração, aprendem o que é o respeito. Se as crianças vivem com segurança, aprendem a ter confiança em si mesmas e naqueles que as cercam. Se as crianças convivem com a afabilidade e a amizade, aprendem que o mundo é um bom lugar para se viver. 

Como vimos, os pais são  espelhos para os filhos e as referências são certamente copiadas. Por isso, é preciso optar  por viver de forma consciente para rever as condições do ambiente onde cresceu, repensar os modelos parentais e como exerciam suas funções, a forma como foi educado, as crenças em que acreditou. Ou seja,  trabalhar mais sobre si mesmo para romper com a herança familiar dos padrões negativos e destrutivos que impedem a pessoa de fazer escolhas construtivas na vida adulta e ainda transmitir para futuras gerações. Talvez dessa forma, teremos menos pessoas nas prisões por corrupção, assassinato, estupro, menos gente vivendo nas ruas ou em centros de reabilitação para drogas, menos violência doméstica, crianças maltratadas, abandonadas é até mesmo crimes hediondos cometidos contra elas, em que os pais ocupam lugar de réus. Enfim, quem sabe teremos uma sociedade com menos filhos arruinados em sua existência por causa do comportamento inadequado dos pais.



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Referência:

Nolte, Dorothy; Harris Rachel. As crianças aprendem o que vivenciam.Rio de Janeiro: Sextante, 2003



sábado, 30 de abril de 2016

PODEMOS CONTROLAR EMOÇÕES?

Por Néa Tauil


A maioria das pessoas acreditam que deveriam controlar as suas emoções (medo, tristeza, raiva, etc.), mas não sabem como fazer. Isso acontece porque não aprenderam a diferenciar as emoções dos comportamentos gerados por tais, confundindo assim, o que podem ou não controlar. Ao contrário do que muitos pensam, emoção é algo diferente de comportamento. A emoção é uma experiência afetiva que provoca reações rápidas a estímulos externos, que são percebidos pela pessoa. Justamente por  surgirem de maneira espontânea e automática tornam-se incontroláveis. Por outro lado, o comportamento é a maneira de se comportar (reagir, portar-se). O comportamento é o resultado direto dos estados emocionais, portanto, passível de controle. Ou seja,  é possível perfeitamente controlar  nossos comportamentos, que por sua vez, são baseados em nossas emoções.

Como vimos,  não escolhemos a emoção. Entretanto,   podemos escolher o modo como iremos expressá-la. Por exemplo: um estímulo exterior pode nos fazer sentir raiva, o que podemos controlar não é a emoção raiva, mas a maneira que iremos expressar essa raiva. Isso significa que  não é preciso sair gritando ou quebrando tudo ao sentir raiva. Se podemos escolher a forma de expressar essa raiva, isso quer dizer que temos um tempo para refletir entre a tomada de consciência da emoção e a ação decorrente. Não há necessidade de uma reação imediata, é possível refletir sobre o modo como iremos expressar essa raiva, que não precisa ser necessariamente gritando ou destruindo tudo pela frente. 

Na verdade, uma vez feita a escolha, nossos comportamentos acompanharão nossas emoções. Por isso, é importante aprender a não confundir as emoções com suas expressões, já que quando não somos capazes de identificar e expressar de maneira adequada nossas emoções,  ficamos ao dispor delas, deixando assim de ser o piloto de nossas vidas, pois elas tomam o controle. Sem dúvida, nossas emoções existem para serem sentidas e expressas, não para nos dominar. 

De fato, o mais importante é compreender que nossos comportamentos, que são a expressão consciente das emoções estão sob o nosso controle. Com isso, podemos estabelecer e manter, na realidade, hábitos de expressões emocionais que não sejam disfuncionais, permitindo assim, vivenciar relações pessoais e profissionais gratificantes, justamente por não ter que esconder  ou expressar inadequadamente as  emoções, mantendo a tranquilidade emocional e mental nesse mundo globalizado, onde a habilidade de gerenciar comportamentos que se baseiam em nossas emoções passa a ser fator relevante de sucesso do indivíduo.



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sábado, 26 de março de 2016

CRENÇAS LIMITANTES: FELICIDADE COMPROMETIDA


Por Néa Tauil

Com bastante frequência, pessoas chegam ao meu consultório com um sentimento desagradável sobre si mesma, uma noção generalizada de falta de valor pessoal e desconhecimento  do próprio potencial, por estarem presas às crenças limitantes, formadas ainda na infância, mas que continuam vivas e presentes na vida adulta, com a mesma emoção e significado que adquiriram no momento da sua formação. 

Crenças são as ideias  e percepções consideradas absolutas e verdadeiras por quem as possui, ou seja, toda crença é uma verdade para quem acredita. Porém, além de haver as crenças positivas, existem também as negativas, conhecidas  como crenças limitantes. O objetivo aqui é focar somente nas crenças limitantes, já que são  elas que  diminuem  as possibilidades, as capacidades, o poder de transformação e o crescimento da pessoa. Há uma enorme variedade de crenças limitantes, entre elas, pode-se destacar as seguintes: "Eu não consigo fazer nada bem", "esse é o meu jeito", "eu não posso mudar porque é assim que eu sou", "eu não consigo me organizar," "eu nunca vou conseguir atingir meus objetivos", " eu não tenho direito a ter esta conquista",  "eu não sou capaz  de resolver este problema," "eu não tenho habilidade para fazer isso", etc. 

Sabe-se que as crenças limitantes  podem ser construídas de duas maneiras: através de uma única experiência, em que a emoção seja muito intensa (traumas e fobias como medo de nadar, de falar em público, de subir num elevador, de voar num avião, etc. são formados dessa maneira), ou pela repetição de experiências, onde a criança perceba o mesmo significado emocional. Em outras palavras, as crenças são construídas por meio das experiências vividas, de acordo com os modos de interação da criança com o ambiente e vice-versa. Mas, por sermos muito  pequenos e, ainda não termos  formadas uma série de aptidões emocionais, cognitivas, físicas e sociais, para que possamos discernir as crenças positivas das  negativas  acerca do que nos é ensinado pelos nossos pais ou cuidadores, aceitamos tudo como verdade absoluta. Por exemplo: se os pais são alcoólatras e a casa é uma bagunça, então a criança entende que todos os pais são dessa forma, como também todos os lares. Assim, tornamo-nos adultos sem perceber que são as crenças limitantes, aprendidas na infância, que podem nos deixar incapacitados, prejudicar, atrapalhar e emperrar nossa vida. 

Veja a seguir, através da metáfora do elefante preso por uma pequena corda, porque é importante a pessoa na vida adulta questionar o estilo de sua família, o treino e a aprendizagem que recebeu na infância:
O circo se instalou naquela cidade e trouxe várias atrações. Logo as pessoas se aglomeravam para ver a principal delas, um elefante, que durante o dia ficava do lado de fora amarrado por uma pequena corda.  
Um jovem observando aquela pequena corda que segurava o animal, se aproximou do domador que tratava o bicho e expôs a sua curiosidade.
– Amigo! Esta pequena corda não vai segurar esse elefante se ele resolver escapar. Pode ser perigoso um bicho desse tamanho solto pelas ruas de nossa cidade.
O que respondeu o domador olhando calmamente para o curioso.
– Ele nunca vai escapar!
O jovem insistiu.
-Mas como você tem tanta certeza que ele nunca tentará escapar? É um espaço pequeno e esta fina corda não vai segurá-lo se revolver conhecer a cidade.
O domador olhando dentro dos olhos do rapaz esclareceu.
– Ele não sabe da força que tem!
O rapaz não satisfeito questionou aquele homem que parecia ser imune da preocupação.
-Mas ele poderia tentar e logo saberia que é muito mais forte do que esta corda que o prende.
O domador continuando a tratar o elefante respondeu ao rapaz curioso.
Para ele saber que pode, teria que ser treinado desde pequeno. Agora já é adulto e segue as ordens como aprendeu durante o seu desenvolvimento infantil.
O rapaz sorriu com um olhar sarcástico.
-ah, mas se ele tentasse, você estaria em apuros.
O domador devolveu o sorriso com o mesmo sarcasmo que foi interrompido.
-Meu jovem, quantas pessoas você conhece que seguem ordens todos os dias e nunca fizeram nada diferente do que foram treinados? Que nunca tentaram escapar? O elefante é como uma pessoa. Amarrado desde pequeno em uma corrente, ele vai tentar, e tentar escapar daquele espaço querendo descobrir novas coisas. Com o tempo vai acreditar que nunca conseguirá e assim podemos amarrá-lo, domá-lo e usá-lo para o que quisermos. Com uma pequena corda, ou até um barbante podemos segurá-lo. Enquanto estiver alimentado em sua zona de conforto, este pequeno espaço, nunca tentara nada diferente

Pelo que se vê, as crenças limitantes não contribuem para termos uma vida feliz. Mas, não precisamos ficar presos a elas como o elefante, pois é possível resignificar todo acontecimento, independente do molde pelo qual é visto. Ou seja, quando o significado se modifica, as respostas e comportamentos da pessoa também se modificam. Então, se sua felicidade está sendo comprometida por tais crenças, faz-se necessário buscar ajuda psicológica para aprender a libertar a mente e o corpo dessa negatividade limitadora.




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Fonte da Metáfora: site: otimomesmo.com.br
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